Cultura visual e seu impacto no consumo

Em entrevista para a Meio e Mensagem, David Ching – “profeta digital da AOL” – expõe sua análise sobre a ampla utilização de emojis nos diálogos que acontecem em meios tecnológicos e sua relação com a vigente cultura visual. Mas, afinal qual é a relação entre o culto à imagem e as imagens que vemos nas mídias?

Não é exatamente uma novidade a comunicação por meio de signos não-linguísticos, pois sabemos que há registros, nas paredes das cavernas, que datam do período pré-historico (e pré-escrita). E agora, no século XXI, com a criação de novas tecnologias para produção e propagação de mensagens, o que nos faz aderir massivamente à interação através de elementos representativos – imagens, fotos, signos – principalmente nas mídias tecnológicas?

Hoje as imagens gozam de um status informativo sem precedentes, e são abundantes em todos os meios de comunicação visuais, muitas vezes substituindo a escrita. Os textos estão recuando diante das fotografias, e os textos dão lugar a legendas.

“Se vivemos em uma cultura que privilegia a imagem como veículo de informação, isto obviamente tem a ver com a multiplicidade de mídias visuais com as quais nos defrontamos em nossa vida cotidiana.” ¹

O avanço tecnológico das mídias ofereceu mais possibilidades de expressão e manutenção de identidade. Qualquer pessoa conectada na internet pode ser produtora ativa de conteúdo, e tem ao seu alcance inúmeras ferramentas que permitem manipular a mensagem – principalmente a visual – que irá para o receptor.

Uma foto, por exemplo, pode carregar inúmeros significados, quando ganha ou perde cores, quando filtros são aplicados e recortes são feitos. O produto final desta manipulação é resultado subjetivo de seu produtor, e este produto é a expressão mais próxima de sua realidade – mais do que apenas a foto em si.

Editar uma foto é editar a própria vida.

Percebemos então que o significado de um elemento representativo não está nele mesmo, este significado pode ser construído instantânea e coletivamente, bastando que os envolvidos na interação compartilhem da mesma percepção da realidade, que estejam inseridos no mesmo meio cultural e estabeleçam uma convenção comunicacional.

Já as palavras têm um significado mais rígido, “uma definição mais absoluta”, citando Ching. A mensagem escrita pode, também, ser manipulada, para enfatizar ou suavizar seu conteúdo, mas a palavra em si já vem carregada de sentido.

>> Quer testar na prática o que leu até aqui?

Envie a imagem abaixo para 3 pessoas, peça a elas que:

 “cultura visual – imagem para editar”

  1. descrevam o que a imagem significa para elas (contexto, emoção);
  2. editem a foto com as ferramentas que desejarem, criando cores, texturas, filtros, acrescentando ou excluindo elementos, a fim de criar novo significado;
  3. descrevam o significado do foto editada.

Você pode afirmar agora que tem três fotos diferentes, além da original? E que a resposta às perguntas 1 e 3 dependem do contexto social e cultural das pessoas que responderam? Qual significado fez mais sentido para você?

Para que um elemento representativo faça sentido, faz-se necessário que emissor/receptor compartilhem da mesma percepção da realidade, que estejam inseridos no mesmo meio cultural.

Agora falando em mercado, marcas precisam estar atentas a estas construções sociais. Para haver consumo, é preciso que o produto comunicacional faça sentido ao seu público. A sociedade produz suas próprias demandas e se rearranja de forma mais rápida que os “analytics” possam acompanhar. Por que será que o Facebook criou os botões de “reações” também para os comentários das publicações? Porque o botão “curtir” conseguia fazer apenas uma leitura muito superficial do engajamento com a mensagem.

Se seguirmos a teoria de que “a sociedade constrói a realidade social através de processos interacionais pelos quais os indivíduos e grupos e setores da sociedade se relacionam”², podemos então dizer que construímos constantemente a sociedade, quando experimentamos possibilidades de interação e damos relevância a determinados processos interacionais.

Voltando à entrevista com David Ching, podemos dela absorver alguns ricos insights; assista na íntegra!

¹Alberto Klein, no livro Imagens de Culto e Imagens da Mídia, 2006

²José Luiz Braga, em versão revista do artigo apresentado no GT Comunicação e Sociabilidade, do XV Encontro da COMPÓS, em junho de 2006)

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1 comment

  1. Cristine

    Amo ler os artigos da Karime. É sempre um melhor que o outro