O princípio da construção da identidade organizacional sustentável, tratado por Migliori (2009) em artigo, explicita que a comunicação organizacional realmente sustentável e responsável, busca o alinhamento e o equilíbrio entre as dimensões ética, competente e responsável.
Aquilo que a organização afirma ser (dimensão ética), expresso pelos seus valores e comunicado extensivamente através dos meios de comunicação on e off line; Deve alinhar-se com o que a empresa pratica (dimensão competente), através de suas políticas internas, atividades e ações cotidianas e, por fim, alinhar-se com a percepção que os diversos públicos têm sobre ela (dimensão responsável). O que vemos no dia-a-dia é um distanciamento enorme entre discurso e prática.
Em 2018, diversas campanhas ganharam destaque tratando do empoderamento feminino, dentre elas, a marca Always com a campanha #likeagirl , as campanhas pela real beleza da marca Dove, e, mais recentemente (2019) a campanha da Nike chamou a atenção pela força e receptividade na campanha #dreamcrazier . Todas as campanhas com forte apelo com relação à valorização da mulher e de suas potencialidades, o que já representa uma conquista de espaço e uma mudança de mindset.
No entanto, embora o assunto esteja na moda e seja, hoje, politicamente correto ter esta postura, será que a prática tem acompanhado o discurso?
Em artigo de 2016 na Gazeta do Povo , Meinhard afirma “Segundo pesquisa do IBGE de 2014, as mulheres ganham em média 24,8% menos que os homens em cargos similares. De acordo com a Grant Thornton International Business, no Brasil, as mulheres ocupam 19% dos cargos de alto escalão enquanto a média mundial é 24%”.
Em outro artigo, Roy (2018) para a Revista Forbes, destaca que alcançar a equidade de gênero, no ritmo atual, nos exigiria 217 anos. Entre as 500 maiores empresas no ranking Fortune 500, apenas 26 CEOs são mulheres. O artigo cita ainda que os homens são promovidos 21% mais que as mulheres e apenas 38% das empresas no estudo “2018 Women in the Workplace” têm metas de representatividade de gênero.
Lessa (2018), em artigo para o Jornal Meio & Mensagem, destacou que a representação da mulher de verdade na propaganda somente vai ocorrer quando houverem mais mulheres em criação, na data, o percentual de mulheres na área, no Brasil, era de menos de 20%. Se considerarmos mulheres em cargos de liderança, não chegava a 6% .
Na época (2015), o movimento More Grls tinha a meta de alcançar 50% de mulheres em criação até 2020. Em janeiro de 2019, nova pesquisa apontou que as mulheres somavam cerca de 26% do total, sendo 14% em cargos de liderança. O que mostra um avanço, embora insuficiente.
Sou educadora, por isso, talvez com certa miopia em virtude de minha paixão por educação, arrisco a dizer que tudo começa com a educação, na tenra infância. Desconfio muito de discursos enfeitados de empoderamento feminino como temos visto, embora concorde que a propaganda contribui muito para a mudança de mentalidade das pessoas em geral, que ela tenha a sua responsabilidade social, etc e tal. Mas, na avaliação cotidiana, no concreto das ações, a distância entre discurso e prática é imensa.
Não haverá empoderamento feminino real enquanto as ações forem externas, enquanto vierem de campanhas bonitas, discursos bem elaborados e artigos como esse, por exemplo.
O verdadeiro empoderamento começa na barriga, na educação da pessoa mulher, no que se fala e se realiza dentro de casa, nas escolas e no ambiente de trabalho. Porque o verdadeiro empoderamento vem de dentro e, como diz Rubem Alves, só a educação tem o poder de despertar a força que dorme dentro da gente.