Tive a grata satisfação de conhecer um lagar. Lagar é o local onde se prensa ou espreme o fruto da oliveira (azeitona) para a extração do azeite de oliva. Vou te contar a experiência que encontrei na deliciosa Casa Mantivai. O local é de propriedade do casal Carlos e Elda Diniz, ela, paulista, ele, mineiro de corpo e de alma, adquiriram o terreno em 1995 e, em 2011, começaram o seu olival com 8.500 oliveiras.

Não sei se você sabe mas, a maioria dos terrenos a venda na área sulmineira são o resultado das atividades agropecuárias sendo, portanto, com poucas exceções de mata nativa, enormes pastos. Em alguns destes pastos pode-se contar com grama de qualidade, que cresce forte, verde e viçosa, mas a grande maioria tem um capim chamado de brachiaria, bom para o gado, mas bastante difícil de eliminar do terreno depois que pega força. A brachiaria é um tipo de gramínea perene, que forma touceiras de até um metro de diâmetro, com raízes profundas, o que favorece sua sobrevivência em períodos de seca, daí a opção deste tipo para a região.

Para a implementação das 8.500 oliveiras, primeiro foi necessária a limpeza da terra, depois, a análise e preparo do solo. Aquisição das mudas, plantio, irrigação e adubagem de acordo com as necessidades de cada tipo de oliveira e das carências do solo. Ah! As brachiarias não podem ser eliminadas, é necessário conviver com elas e roçar frequentemente, imagine o trabalhão que dá!! Mas, vamos imaginar que tudo deu certo da primeira vez (#sóquenão) e as plantas cresceram como o esperado.

Oliveiras são oriundas do hemisfério norte, portanto, inverno e verão invertidos com relação ao que temos no Brasil, o que já é um desafio. A falta ou excesso de chuvas afetam a polinização das flores e, portanto, a frutificação das diversas espécies. Em 2018, por exemplo, a segunda safra da Casa Mantiva sofreu com o excesso de chuvas, o que resultou em uma produtividade mais baixa do que o esperado.

Ok. As azeitonas frutificaram e entre março e maio é o momento da colheita. A colheita é manual para proporcionar maior qualidade dos frutos, imagine colher azeitonas de mais de oito mil árvores. Colhidas as azeitonas, o processo ocorre agora todo no lagar. Os frutos são lavados, passam pelo processo de esmagamento, homogeneização e, depois, centrifugação. Nesta etapa, obtém-se um azeite ainda com resíduos do bagaço. Este azeite passa por um fino sistema de filtragem, tornando-se límpido mas, ainda assim, deve ser decantado em um ambiente climatizado (temperatura controlada), escuro e extremamente limpo, para preservar as qualidades do produto final.

Após estas etapas, o azeite pode ser envazado e comercializado, chegando até a nossa mesa com qualidade excepcional, competitiva com azeites de tradicionais produtores como Itália e Espanha. Fiquei fascinada. Mas este artigo não é para exaltar as qualidades do Casa Mantiva, que aliás, eu experimentei e é fantástico. Você já fez degustação de azeite? Ah! Essa é uma outra história.

Conhecer todo o processo me fez refletir que hoje, como consumidores, somos pródigos em esquecer que, em algum lugar entre a caixinha longa vida do leite e o seu café da manhã de hoje, alguém fez o trabalho duro por você.

Evoluímos em máquinas e equipamentos e os produtos são industrializados, o que equivale a dizer que máquinas fizeram a bolacha que comemos, sabemos disso, o que acaba por desumanizar o processo, desvalorizando-o, a ponto de olharmos apenas o $ nas prateleiras do supermercado, sem medirmos o tamanho da cadeia de fornecimento e de produção que trouxe o produto até nossas mãos.

Alguém, em algum lugar, fez o trabalho duro por você. Alguém plantou o pé de laranja, alguém colheu, alguém lavou as laranjas e as espremeu para que você tivesse acesso ao suco. Assim como alguém criou o gado, alimentou, extraiu o leite, pasteurizou, embalou e transportou até o supermercado onde você o adquiriu.

Como consumidores, precisamos, vez ou outra, fazer o exercício do distanciamento. Reclamamos do “trabalho duro” que fazemos todos os dias, do transporte coletivo, do almoço por quilo, do chefe, do salário baixo. Será que estamos dispostos a fazer o trabalho duro? Do agricultor, seja ele um fazendeiro ou pequeno produtor, do motorista do caminhão. Estamos dispostos a colher as azeitonas, laranjas, abacaxis com nossas próprias mãos? Plantar os pés de alface para vê-los se afogar na enxurrada?

O mercado consumidor sustenta um ciclo, claro que precisamos estar atentos a como este ciclo funciona. Exigir a sustentabilidade em todas as etapas, cobrar das empresas responsabilidade social e trabalhista, exigir que os produtos nos alimentem e não envenenem com agrotóxicos. Mas reclamar e posicionar-se, em muitas situações, sem conhecimento de causa, sem entender as dificuldades do processo é, no mínimo, muito cômodo.

A educação para o consumo é necessária. O consumo consciente é, talvez, a única forma de continuar a atender as nossas necessidades imaginando que, talvez, os recursos naturais não se esgotem. É um assunto altamente complexo, com inúmeras variáveis, nem tentaria expor todos os aspectos aqui.

É apenas uma proposta de reflexão para que possamos entender que, não importa o que você consome ou como o faça, em algum lugar, alguém fez o trabalho duro por você!

Fonte:
¹Casa Mantiva – facebook https://www.facebook.com/casamantiva/; Instagram https://www.instagram.com/casamantiva/?hl=pt-br Saueressing, Denise. A hora do azeite brasileiro. Revista A Granja. Julho de 2017. Disponível em https://edcentaurus.com.br/agranja/edicao/823/materia/8563 acesso em junho de 2019

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