Dando continuidade a postagem do mês anterior – A Mandala da Informação no Universo Corporativo – vou apresentar as quatro barreiras básicas que atrapalham o processo de compreensão adequada da informação, segundo o prof. Cláudio Starec.
Se ocorrer uma falha no processo comunicacional, ela afeta diretamente os principais ativos da corporação, seus colaboradores. Diante disso, a comunicação deve ser entendida como um pilar do sistema nervoso central de inteligência competitiva nas organizações.
A primeira barreira é a MÁ COMUNICAÇÃO. Ela acontece não pela escassez de informações, mas justamente pelo contrário, pelo excesso, porém, de forma desorganizada e não objetiva. O processo de comunicação engloba três momentos simultâneos: o que é dito, como é dito e a postura diante do que se é dito – processo também válido para corporações. Pesquisas apontam que a má comunicação interna é uma das principais falhas que ocorrem nas organizações (Harris Interactive, Instituto ISMA e Reuters). Uma das críticas apresentadas aponta que o modelo TopDown (de cima para baixo), não estimula o diálogo, e acaba por promover um monólogo, que gera uma lacuna entre a alta administração e o “chão de fábrica”. Esta lacuna é preenchida por boatos, que geram desconfiança e até patologias nos colaboradores, tais quais: dores ou desconfortos musculares, insatisfação, falta de motivação, vícios, etc. (ISMA, 2007) e produz efeitos diretos sobre a produtividade dos colaboradores: baixa concentração, impaciência, ansiedade, agressividade, etc.
A MIOPIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL é apontada como a segunda barreira no processo de comunicação. Sobre este ponto vou recorrer à Confúcio: “Devo ensinar-lhe, Tzu-lu, no que consiste o conhecimento? Quando você sabe alguma coisa, reconhece que sabe; e, quando você não sabe alguma coisa, reconhece que não sabe. Isto é conhecimento”.(Confúcio, Século IV a.C). Praticamente vivemos bombardeados por informações que provém de todos os lados. Filtrar o que essencial sem se sentir atraído pelo supérfluo é o mais complexo. Criar estímulos para a troca e compartilhamento de informações é vital. A arrogância do corpo gerencial pode ser determinante para o fracasso do plano estratégico. É necessário clareza, para não sair por ai atirando para todos os lados. Lion, líder dos Thundercats, quando percebia alguma dificuldade, sacava sua arma e dizia: “espada justiceira dê-me a visão além do alcance“. Os gestores modernos não possuem tal “ferramenta”, mas provavelmente foi direcionado a possuir competências comportamentais e técnicas do negócio e mercado onde esta inserido, e precisa de humildade para reconhecer, como apontou Confúcio, que não sabe.
A terceira barreira é a FALTA DE COMPETENCIA, comumente caracterizada pela máxima: a pessoa errada para a posição errada. As pessoas são os principais ativos de uma empresa/corporação, pois não é um software ou hardware responsável pelo processo de tomada de decisão. Claro que auxiliam, e muito, nos processos/fluxos internos, porém são pessoas que guiam as organizações na direção dos caminhos traçados. Não há possibilidade de fluxo informacional sem as redes interpessoais, interdepartamentais e interdisciplinares (Ecologia da informação). Esta barreira acontece basicamente pela necessidade de adequar os cargos e funções aos recursos disponíveis na organização.
A última barreira apontada pelo autor é a da DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA. Em linhas gerais estamos efetivamente dependentes das tecnologias da informação, tal qual em muitos casos, ficamos impossibilitados de trabalhar sem ela. Todavia, apesar desta ser uma realidade, temos que coloca-la em seu devido lugar, de ferramenta, claro que o de ferramenta protagonista do ambiente informacional. Deve-se destacar que muitos gestores acreditam que a tecnologia pode fazer milagres e resolver a maioria dos problemas internos de suas respectivas organizações. Entretanto, Charles Wang, fundador da Computer Associates (importante empresa de softwares corporativos), afirma que há um certo fetichismo nesta visão, pois mais de um terço do capital aplicado em soluções de TI, acabam sendo desperdiçados por utilização inadequada ou subutilização. O verdadeiro problema é supor que a tecnologia em si é capaz de resolver todos os problemas que assolam a organização. O importante é o mapeamento dos fluxos informacionais visando a detecção de reservatórios e/ou bolsões, que impedem que a informação circule de forma adequada e regue todos os envolvidos.
As organizações seriam instrumentalizadas com vantagens competitivas no mercado se atentassem para estas barreiras e tomassem consciência do quanto são diretamente afetadas por elas. Não basta ser tamanho e presença global, pois até os gigantes tombam. Estas barreiras precisam ser enfrentadas, e em geral as pequenas e médias organizações são – dada a menor escala geográfica de atuação e distância no quadro hierárquico existente – que possuem as maiores chances de obter resultados efetivos nesta seara.
Janaina Rehder
Muito Bom Paulo!!!!
Adorei seu texto!
Luis Paulo
Obrigado Janaína!
Heron Xavier
Muito bom seu artigo Luis Paulo!
Concordo contigo quando citado sobre a má comunicação causada pelo excesso da mesma.
Para se fazer uma boa comunicação, é essencial fazer aquele desenho básico que aprendemos na primeira aula de comunicação:
emissor ————- mensagem (ruídos) ———– receptor
Se a equipe não conhece seu receptor e quais as estratégias para atingi-lo, não adianta de nada investir dinheiro em ações improdutivas.
Abraço.
Luis Paulo
Realmente Heron! Está certíssimo! O tripé da comunicação é essencial. Estava lendo alguns artigos que apontam que o plano estratégico de muitas empresas sucumbem justamente por não haver o alinhamento comunicacional com o restante da empresa. É necessário, e até certo ponto, vital, que os colaboradores saibam onde estão, e para onde a empresa quer levá-los. No livro Alice no país das Maravilhas tem uma cena muito ilustrativa – Alice está perdida, e de repente, vê no alto da árvore o gato. Ela olha para ele lá em cima e diz assim:
“Alice: Você pode me ajudar?
Gato: Sim, pois não.
Alice: Para onde vai essa estrada?
Gato: Para onde você quer ir?
Alice: Eu não sei, estou perdida.
Gato: Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.”
Muitos colaboradores sentem-se perdidos no mundo da corporação onde estão envolvidos. Assim como Alice, muitos deles perguntam para seus gestores imediatos para onde querem ir, e eles mesmo não sabem informar. Estamos cada vez mais imersos no mundo da operacionalização, reprodução desenfreada, o famoso “apagando incêndios”, que acabamos nos esquecendo da atividade da reflexão. E pior, num mundo cada vez mais hipermoderno e egocêntrico, e acabamos por perder a empatia com os demais. Para a comunicação ser efetiva, devemos fazer o exercício de nos colocarmos no lugar do outro. Enfim Heron, obrigado.
Priscila Stuani
Ótima abordagem!
Fala-se tanto em processo de comunicação, mas não tinha me atentado a essas barreiras.
Gostei :D
Abraços,
Priscila
Luis Paulo
Olá Priscila,
Obrigado! Aprendi muito com este livro, na verdade, estou aprendendo muito. O Prof. Starec é um excelente profissional.
Abraço,
Alessandra Alkmim
Excelente abordagem Luiz Paulo, gostei muito do seu texto. Abraços!
Luis Paulo
Olá Alessandra,
Muito obrigado!
Abraço