Escrevo este post num dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, e nada me pareceu mais pertinente (embora lugar comum) do que dar uma olhadinha na representação da mulher numa das áreas da comunicação de que mais gosto: a propaganda.
Há mais de cem anos somos bombardeadas com imagens que buscam traduzir um aspecto do que é ser mulher. Desde as primeiras revistas femininas com assuntos gerais de como portar-se em sociedade, como arrumar o lar e um marido até os blogs atuais, um longo caminho se traçou, mas o “ser mulher” me parece ainda um mistério para todos, incluindo nós mulheres.
Já fomos e somos tantas. Em 1950 éramos as “rainhas do lar”, às voltas com as novidades em produtos e eletrodomésticos, que permitiriam que fôssemos mais eficientes em cuidar de nossa família:
Sempre desejamos nos sentir belas e admiradas, espelhando-nos em estrelas do cinema mundial e da televisão nacional. A marca Lux adotou por anos o slogan “9 entre 10 estrelas” e nos víamos refletidas nos anúncios de sabonetes e perfumes:
Belas, recatadas e do lar (#sóquenão), a mulher vai ganhando terreno nos ambientes fora do lar e acumulando funções, buscando um árduo equilíbrio entre os diversos papéis, mas a perspectiva da propaganda vê o compartilhar como uma “ajuda” à qual devemos ser imensamente gratas. Assim, é justo que tenhamos um Volkswagen somente para nós! Não é verdade?
Melhor que isso, nossos maridos podem ficar tranquilos em nos dar um Volkswagen, já que não dirigimos muito bem e o custo de manutenção do carro é baixo comparado com outros modelos. Assim, “caso sua mulher venha a bater em algo com seu Volkswagen, isto não lhe custará muito!”:
É muito divertido ver as coisas escabrosas que encontramos em propagandas antigas, muitas tem um teor tão absurdamente machista que nos perguntamos como não houve uma revolução armada quando algumas foram veiculadas:
Mas…será que alguma coisa realmente mudou na indústria da propaganda? Aparentemente não5:
Na verdade, cremos sinceramente que a mudança só vai ocorrer quando pudermos educar nossas crianças a partir de uma perspectiva de igualdade e respeito ao próximo, independentemente de quaisquer bandeiras feministas, étnicas, políticas ou religiosas. A propaganda reflete a sociedade, assim como a sociedade é um reflexo do que a comunicação dissemina à exaustão todos os dias em todos os meios de comunicação.
Não se trata de ser politicamente correto apenas, mas de aprender a respeitar as necessidades e diferenças. Este é um exercício para todos nós, de dentro para fora. Quantas vezes rimos, achamos engraçado e repetimos piadas, compartilhamos memes, imagens e frases que reforçam padrões que precisam ser superados?
O convite é para que comecemos a ver nossa realidade com outros olhos, o empoderamento feminino não pode ocorrer em detrimento ao masculino. Nos referimos aqui ao papel feminino e masculino e não somente à condição física com a qual nascemos.
Não somos polos opostos em luta. Para que um ganhe o outro não precisa perder. Somos diferentes que precisam aprender a respeitar-se como tal. Somos todos seres humanos.
Parabéns a todos nós pelo Dia internacional do respeito ao ser humano!