Há algumas semanas assisti a uma peça de teatro. A sinopse dizia que se tratava de uma peça cujo enredo abordaria os relacionamentos amorosos contemporâneos em contraponto ao amor romântico. O que a peça mostrou foi uma colagem de histórias de amor famosas da literatura. Até aí tudo bem (ou quase). A peça era falada em línguas. Alemão, francês e inglês. A encenação era quase competente e, talvez, meu olhar fosse mais generoso se uma pergunta não ecoasse em meu pensamento: Pra que?

Depois de uma conversa sobre este tema com uma amiga atriz que defendeu o conceito ‘Teatro de Pesquisa’ e o esclareceu (por saber bem mais do que eu a respeito), cheguei a seguinte conclusão: eu não sou o público. Eles falavam, mostravam e atuavam um produto que não era para mim.

A proposta a meu ver era muito purista. Falar três línguas em um país que não as adota enquanto idioma oficial me parece um despropósito. Assim como o é não pensar em atingir um público maior ao contar uma história. Meu pensamento comunicólogo no teatro. Meu pensamento ator-comunicólogo. Realmente, eu quero contar uma história e passar um recado de forma certeira. Sempre!

Nas disciplinas do MBA em Marketing Digital, nos deparamos com questões que são analisadas através do nosso olhar pessoal. Ser estratégico ainda é o maior desafio para o profissional de comunicação. Tanto que a polêmica do meme Knorr e da resposta Hellmans provocou discussões calorosas na sala de aula. Como em uma turma de história que se divide entre esquerda e direita, havia os alunos a favor e os contra. O que me remete a pergunta: Estamos nos tornando puristas digitais?

Manda-nudes-knorr

Assim como a peça de teatro falada em uma língua que não era a minha e que eu não entendia me incomodou, uma comunicação que não fala a minha língua será facilmente descartada ou, no mínimo, causará um estranhamento. O que me remete a outra pergunta: Quantas línguas você fala?

E não, não estou falando sobre idiomas. Me refiro ao que você acredita, às páginas que segue, à música que ouve, à comida que come e à forma como pensa. Um exemplo disso é a publicidade e o engajamento digital das marcas. Em um ambiente em que bandeiras são facilmente levantadas ( #estamosdeolho o tempo todo) se a marca é machista, racista, homofóbica ou ofensiva em qualquer instância, vozes serão levantadas e dedos serão apontados. Talvez eles estejam indicando a direção a ser seguida.

O conflito está lançado. Se na minha opinião a interação Knorr foi bem humorada, para outros foi absurda. Assim como a meu ver, o comercial da Heineken que diz que mulheres são facilmente distraídas por uma liquidação de sapatos é ofensivo e ineficiente. Para uma colega de classe foi divertido e bem humorado. O que me remete a outra pergunta: O que te ofende?

Conhecer o nosso público é tarefa tão difícil quanto se conhecer. Purismo, então, não é a resposta. Não comunica. É preciso falar a língua do público. Com responsabilidade? Sim, sempre. E isso está longe de ser um xiitismo. O desafio dessa era digital é saber pra quem se fala, como se fala e ter a consciência de que a vigília acontece.

Uma aventura! É o “ser plural” que remete a não pensar como um só. É o “ser verdadeiro” que não significa ser ofensivo. Estamos a serviço do comportamento do consumidor. Qualquer tipo de rigidez será ineficiente e a falta de filtros resultará em uma comunicação crua. Em uma época em que queremos deixar tudo mais leve, bonito, relativizado e compreensível. A época do #somostodos.

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