Compreender as tendências é a ação básica para qualquer área de IC, pois como afirma o professor Francisco José Fonseca de Medeiros sobre a atividade de IC:
“A Inteligência Competitiva ajuda os líderes, empresários e empreendedores a descobrir o que existe de melhor em suas organizações e empresas, em seus funcionários, clientes e concorrentes, bem como as oportunidades do ambiente mercadológico e ajuda a alta direção a formular a estratégia competitiva adequada. Sem isso, a tendência é de estagnação e, futuramente, provável extinção da empresa”.
O relatório As dez tendências globais de consumo para 2014, elaborado pela pesquisadora Daphne Kasriel-Alexander, da consultoria Euromonitor apontou alguns caminhos possíveis do consumo em 2014.
É muito importante para as áreas de inteligência das empresas se atentarem para as tendências do zeitgeist, do macro-movimento histórico sócio-econômico que a humanidade está trilhando. As decisões de hoje, serão fundamentais para a sobrevivência das companhias de amanhã. O que é aparentemente inofensivo hoje, pode ser fatal no amanhã – ou melhor, pode se tornar uma vantagem competitiva determinante.
Os resultados do estudo apontam a existência de uma dicotomia básica. Em um dos extremos há uma maior tendência pela preocupação sócio-ambiental, alimentação saudável, frugalidade e importância da comunidade, diametralmente oposto, o consumo de itens diferenciados, de luxo, um maior apelo visual, a facilidade de adquirir produtos e a universalização dos aplicativos. Aponta também que o consumidor está mais crítico, que ao mesmo tempo que deseja produtos sofisticados e os adquire no calor do momento, exercita sua maior visão crítica e a possibilidade de comparação – possibilitada pela era da conectividade, da rede.
As dez tendências apontadas são:
1. Gastos por impulso – aumento da tendência da gratificação instantânea, instigada pelas marcas, que diminui a lacuna entre o desejo e a aquisição, facilitada pelas tecnologias – comprar ficou mais fácil do que nunca, a distância entre o desejo e sua realização pode ser apenas um simples clique. As empresas visam transformar seus seguidores, em redes sociais, em potenciais compradores e divulgadores privilegiados. O estreitamento entre o virtual e o real é cada vez menor. As empresas utilizam valores e ideias para tonificar a relação entre os consumidores e as respectivas marcas das quais seguem. Tendência à uma maior variedade de marcas numa mesma empresa.
2. Alimentação saudável – A cada dia mais e mais consumidores atentam para a necessidade de se levar uma vida saudável e equilibrada, visando o aumento da qualidade e expectativa de vida. O primeiro passo para o início deste processo é a de ter uma alimentação saudável e balanceada. A tendência à uma alimentação saudável deixou de ser uma preocupação de alguns nichos e aos poucos se desloca ao centro do sistema. Os alimentos “sem” (sem glutén, sem lactose, sem gorduras trans etc), tendem à uma lenta, mas constante substituição aos habituais.
3. Consciência social e ambiental – As notícias alarmantes dos extremos climáticos favoreceram o aumento de práticas de consumo consciente. Os consumidores estão atentos à empresas que seguem modelos de negócios predatórios, ou que gerem impactos ao ambiente (natural/social), punindo-as no que tange à sua esfera de atuação, o momento da compra. A cadeia de suprimentos deverá ser cada vez mais transparente, pois o consumidor deseja saber a procedência dos produtos que adquire.
4. Importância do lar e da comunidade – Em consonância com a tendência anterior, os consumidores preferem estreitar os laços com o local imediato onde sua vida cotidiana acontece, a comunidade (o espaço geográfico imediato – evitando grandes deslocamentos). Esse princípio evoca o ideal de autenticidade e pertencimento, assim como noção de consciência ambiental.
5. Frustrações com o trabalho e com a rotina – Os consumidores estão cada dia mais preocupados com o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada. Há uma tendência à se levar uma vida mais simples, porém, isso não significa necessariamente menos consumo, mas sim por produtos e serviços que ofereçam maiores possibilidades de conveniência. Também é apontado que os consumidores estão se revoltando contra o excesso de informações produzidos diariamente, e preferem reforçar os laços com a família e amigos.
6. “Banalização” do luxo – Os produtos de luxo estão na lista de desejos dos consumidores e seguem um ritmo, exageradamente colocado, mas que ressalta o crescimento do desejo incitado por eles, de banalização. A facilidade do crédito e o almejo à ser diferente/especial, de se destacar da multidão, de expressar sua identidade e personalidade através do uso de certos produtos, coloca a indústria do luxo na rota dos ladrilhos dourados. Parcerias entre grandes marcas de luxo e varejistas apostam na tendência de lançamento de coleções acessíveis, vendem a ideia de “alma”, ao mesmo tempo que são massificadas.
7. Democratização do consumo – O poder das escolhas. Os consumidores estão cada vez mais atentos ao poder que possuem. A tecnologia possibilita que as pessoas criem e difundam medias em escala global. Segundo dados do Euromonitor, cerca de 40% do conteúdo digital disponibilizado na internet em 2013 foi realizado por amadores e produtores independentes. Fidelizar clientes neste contexto é uma atividade mais complexa, pois o consumidor almeja sentir que contribui de alguma forma, e que não age passivamente ao que é disponibilizado no mercado. Neste sentido, a blogosfera ganha poder, pois são, em tese, consumidores falando para consumidores – não sentem diretamente o peso da interferência da pasteurização comunicativa das corporações.
8. Lidar com a pós-recessão – Após a crise de 2008, muitos consumidores se viram diante de um novo contexto econômico/social. Sentiram na pele os efeitos da recessão e tiveram que se adaptar à um novo padrão de consumo. Os efeitos diretos são o menor consumo em shoppings centers, aumento do consumo colaborativo e a necessidade de apelo ao crédito. O nível de endividamento é um risco constante, necessário para a manutenção do padrão de vida.
9. Universalidade dos aplicativos – Um admirável virtual mundo novo surgiu com a massificação dos smartphones e das tecnologias comunicacionais. A geração Z, nascida após a difusão massificada da internet (após 1991), representa o maior potencial de consumo para as empresas. E elas devem ficar atentas à esse novo mundo, pois uma grande fatia do mercado estará alocada nesta modalidade. Os jovens dessa geração são impelidos à utilização de aplicativos para tudo que se possa imaginar, desde jogos à exercícios físicos, no consumo individual do tempo ao lazer conectados com os demais.
10. Apego visual – Também ligados à difusão dos smartphones, o selfie, considerada a palavra do ano de 2013, reforça o apego visual dos consumidores e da consequente exacerbação do ego. O ambiente digital, em especial as redes sociais, representam a extensão natural do indivíduo. As marcas, em sintonia à esse movimento, deverão cada vez mais se utilizar de plataformas sociais, pois muitos usuários de redes sociais se espelham em seus pares no que tange aos desejos materiais imediatos, uma vez que o processo de identificação ocorre quando o interlocutor compreende o sentido tencionado pelo emissor. Esse processo tende a formação de nichos e expansão da escala de difusão de tendências.
Portanto, as áreas de IC devem compreender essas tendências e premeditar o impacto de campanhas, assim como no constante monitoramento das ações da concorrência.
Eliane Lages
Ótimo conteúdo para deixar os profissionais de comunicação e marketing antenados sobre os caminhos do consumo em 2014!
Parabéns, Luis!
Abraços, Eliane.
Heron Xavier
Muito bom artigo Luis Paulo!
Gostei bastante de saber das tendências que nortearão 2014….
Parabéns!