Uma matéria publicada pela revista EXAME em maio de 2010 nos incentiva esquecer as reivindicações feministas, a guerra dos sexos, as políticas afirmativas de gênero. Pense apenas no mercado, no potencial de consumo e, em última análise, em como essa inquestionável ascensão feminina muda a economia e o jeito como as empresas olham o mercado. Até hoje, as mulheres eram vistas basicamente como “influenciadoras” das decisões de compra – sobretudo como donas de casa que ajudam a administrar o orçamento familiar.
Nos últimos anos mulheres despejaram na economia mundial cerca de 12 trilhões de dólares – mais do que a soma das economias do celebrado Brinc. No Brasil, elas foram responsáveis por gastar – sozinhas – quase 800 bilhões de reais em produtos e serviços. Como tirar proveito desse enorme mercado?
Dados de uma pesquisa do BCG apontam que a massa salarial feminina mundial tem crescido em média 8% ao ano desde 2003 – ante um aumento de 5,8% nos ganhos dos homens. Com isso, a previsão é que a quantia controlada pelas mulheres e destinada ao consumo em todo o mundo deverá ultrapassar 20 trilhões de dólares em 2015, ante os 12 trilhões atuais. Para efeito de comparação: a massa salarial global masculina é hoje de 23,4 trilhões de dólares.
Os números mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam o avanço das mulheres por aqui. De 2001 a 2008 a massa salarial feminina (a soma do salário de todas as mulheres incluídas no mercado de trabalho formal) aumentou 42,3%, ao passo que a masculina cresceu 25,9%. Hoje, o salário de uma profissional equivale a 71% do de um homem que desempenha a mesma função – em 1993, essa relação não passava de 32%.
A recente ascensão das mulheres no mercado de consumo tem contribuído para a quebra de alguns estereótipos. O principal deles é o de que elas só gastam em roupas, acessórios e cosméticos, deixando despesas mais “sérias”, como a aquisição do carro ou a reforma da casa, a cargo dos homens. Ok. As mulheres continuam – e continuarão por toda a eternidade – loucas por sapatos, acessórios, roupas e maquiagem. Mas a riqueza gerada por elas, hoje, se distribui de forma muito mais sofisticada. Boa parte da renda vai para setores como educação dos filhos e a própria educação, alimentação, telefonia e planos de saúde.
Móveis, carros, motos, eletroeletrônicos. Diante de consumidoras tão vorazes, era de imaginar que o mundo dos negócios estivesse um passo à frente, pronto para atender aos desejos delas, certo? Pois não é o que vem acontecendo. Na realidade, ainda são raros os casos de empresas bem sucedidas na arte de entender as necessidades e os desejos femininos. A maioria acabou vítima de sua própria arrogância, fruto de avaliações superficiais acerca dessas consumidoras. Foi o que aconteceu com a fabricante de computadores americana Dell.
No final do ano passado, seus executivos decidiram lançar uma linha de laptops específica para a mulherada. A Dell fez o óbvio – e o óbvio não funcionou. Lançou uma gama de produtos com cores vibrantes (sim, o pink estava entre elas), vendidos por meio de um site batizado de Della, que se ocupava mais em vender acessórios do que em apresentar adequadamente as qualidades do produto. Sentindo- se tratadas como bonecas Barbie, centenas de consumidoras americanas foram para a internet reclamar. A polêmica chegou às páginas do influente New York Times.
Segundo o jornal, os marqueteiros da Dell deveriam “voltar para a escola”. “Algumas empresas ainda acham que vender para mulher significa pintar o produto de cor-de-rosa”, afirma a antropóloga carioca Lívia Barbosa, diretora de pesquisas da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
A busca incessante por praticidade – e não por meros produtos rosa-choque – é o que explica a escolha da Apple como uma das três marcas mais admiradas pelas mulheres no mundo segundo o levantamento do BCG. O segredo pode residir no fato de que Steve Jobs, o gênio por trás da empresa, jamais se importou muito em tratar as mulheres de forma diferente dos demais consumidores.
Mas, aparentemente sem querer, Jobs respondeu com seus produtos a uma das grandes demandas femininas numa era de infernal proliferação de botões e controles. “Os produtos da Apple são fáceis de usar, quase intuitivos”,
Se pensarmos no momento em que o capitalismo mundial anseia por novos mercados que sustentem o crescimento dos negócios e a geração de mais riqueza, enxergar a evolução da sociedade e o novo papel econômico da metade mais sensível da população global parece ser um movimento mandatório e que não para de crescer.
Priscila Stuani
>Interessante essa pesquisa, ainda mais porque mostra a relevância da mulher no cenário atual.
A mulher é sem dúvida uma importante consumidora, afinal ela é: profissional, esposa, mãe e mulher.
Assim como o perfil do cliente evoliu, o da mulher também. Fato disso é a colocação que a Livia barbosa fez.
Abraço.
Anonymous
>Olá Ana!
Boa! Aproveito para sugerir um vídeo sobre uma pesquisadora em empreendedorismo feminino que nos faz para além de enxergar a mulher como simples mercado, enxergarmos o mundo de possibilidades que criamos ao ascendermos profissionalmente: http://www.ted.com/talks/lang/en/gayle_tzemach_lemmon_women_entrepreneurs_example_not_exception.html
Um grande abraço!
Tati