As comidas tradicionais e populares vêm ganhando versões gourmet, com ingredientes nobres e selecionados. Aparecem associadas a termos como orgânico e trufado, muitas vezes, apenas para justificar o preço. Nada contra a alta gastronomia, até aprecio, porém estamos presenciando certos exageros.
Um exemplo é o que aconteceu com o picolé. A sobremesa virou paleta mexicana, sendo que a versão recheada daqui não existe no México, e a Kibon lançou também a sua versão “gourmetizada” do produto. Uma edição especial e limitada do Magnum em parceria com a grife italiana Dolce & Gabbana, comercializada pelo preço médio de 11 reais.
Considerado um dos P’s fundamentais no Marketing, o produto é primeiramente desenvolvido, etapa onde são definidas suas características e funcionalidades. Só depois, decide-se a estratégia de comercialização e promoção, estabelecendo a sua precificação baseada em custos de produção e lucro previsível. O que observamos hoje em dia, no entanto, é o preço justificando o produto, quando deveria ser o contrário.
Qualificar um produto como gourmet para atingir um público específico e justificar um preço maior é uma estratégia arriscada para o negócio, pois o produto vendido não representa necessariamente a forma em que é promovido. Outro termo também utilizado em exagero é o “comfort food”. Dele não escaparam as pipocas e os doces como o brigadeiro, presentes agora com nova nomenclatura adjetiva em festas vips.
O termo gourmet deve ser associado a um produto da alta gastronomia, por exemplo, que reúna no seu preparo cultura, arte culinária e ingredientes de qualidade, além de ser artisticamente apresentado. Seu uso indiscriminado por estabelecimentos e marcas não passa de uma estratégia para tentar se diferenciar e ganhar espaço no mercado. E o consumidor pode acabar comprando gato por lebre.