Reality show e outras pérolas

Começou a temporada 2013 dos reality shows. Num blog de opiniões pessoais sobre a humanidade, poderia discorrer muitas palavras sobre minha percepção pessoal sobre determinados programas. Porém, acho que aqui a abordagem é outra, mas não pode ser deixada à parte. As manifestações a favor e contra já começaram na internet e nas redes sociais. E com certeza farão parte de muitas conversas nos ambientes que frequentamos.

Quando fiz pós-graduação em Gestão de Marcas, o BBB estava em suas primeiras edições. Discutíamos na sala de aula, entre profissionais de comunicação, como seria esse programa, onde chegaria a ideia e como atingiria a grande massa. Muitos anos depois a fórmula está aí, com alterações, mas se tem 13 anos é porque deu certo.

Como profissionais, acredito que sim, precisamos ver esses “sucessos” para procurar entender o que se passa na cabeça dos diversos públicos. Seja ler Harry Potter, Paulo Coelho e Cinquenta Tons de Cinza, seja assistir às Mulheres Ricas e ao BBB – independente da classificação e do julgamento que faremos de cada um deles.

Os patrocinadores estão aí. Associar a marca a determinados “produtos” deve ser pensado com equilíbrio. Grandes empresas mantêm esses programas no ar. E não é porque não gosto de BBB que não bebo mais Guaraná Antártica. O que considero que precisamos, ao tratar a publicidade, o marketing, a comunicação como um todo, é não fechar os olhos para o caminho que estamos seguindo.

Digo isso porque fazemos parte de alguma forma de todo esse universo. Seja como produtores ou como espectadores, muitas vezes como pais e educadores. É necessário que estejamos atentos a como o entretenimento está de certa forma tomando conta de um espaço além do que deveria. Não podemos confundir cultura e entretenimento, pois corremos o risco de que a cultura se veja “engolida” pelo outro. Talvez tudo bem vender para a massa a partir da exposição em vitrine de pessoas, sujeitos a situações absurdas a que se propõem. O fato é: as pessoas estão virando meros espectadores e não se sabe onde isso pode levar. A instrução, a cultura, o discernimento estão ficando de lado principalmente no conteúdo oferecido para a grande população. Não sei, talvez acabemos criando seres alienados que tenham dificuldade em lidar com tudo isso em determinado tempo.

No livro: Conversa sobre a fé e a ciência, Frei Betto, em uma discussão sobre poder – que envolve também a mídia, o mercado, além da religião, da tecnologia e governo – diz: “Ninguém consegue, sendo espectador do jogo, ter a autoestima do jogador”. Fica para pensarmos no nosso papel, como profissionais e estudiosos e, muito mais, como cidadãos, sobre onde queremos e devemos chegar. Que usemos nossa inteligência sim, claro, para termos sucesso nas vendas, na mídia, na empresa. Mas que não transformemos a todos em produtos à venda por qualquer preço.

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18 comments

  1. Janaina Rehder

    Ótimo texto Paula!

    Concordo com você, realmente esses “sucessos” merecem ser estudos e analisados. Acredito que mais do que um sucesso em si, eles são sucessos de case mkt! Acredito que o BBB ou os 50 Tons de Cinza não seriam o que são só por eles mesmos, acho que o mkt pesado que existe em torno deles criam o “mito”….
    O que me deixa triste é pensar que grande parte da população já acha que entretenimento é cultura…. Infelizmente o acesso ao entretenimento alienante é mais fácil que o acesso a cultura instrutiva…

    • Paula Bortolini

      Olá Janaína! Com certeza são bons cases de marketing e ao longo do tempo serão discutidos e analisados. Realmente precisamos estar atentos às questões cultura x entretenimento. Sem dúvida temos – e precisamos – espaço para os dois, só não podemos deixar que um exclua o outro. Fica mais esse desafio para nós profissionais.

  2. Excelente abordagem, Paula!

    Como profissional, busco ser neutra, embora muitas vezes o meu lado racional seja mais forte, mas como você bem disse, esses programas, ou filmes e livros, atrai uma série de patrocinadores e pessoas que estão atentas a essas “novidades”.

    Concordo com a Janaina, lamento pelas pessoas que acham que entretenimento é cultura. Acredito que seja importante deixar claro a diferença entre as coisas.

    • Paula Bortolini

      É isso aí Priscila! Precisamos mesmo ter a neutralidade necessária ao trabalho das marcas. E lutarmos para que as pessoas queiram se entreter, mas que não percam também o outro lado, que requer, digamos, mais dedicação e pensamento crítico.

  3. Fabio Passerini

    Existem dois conceitos que obnubilam a nossa visão, uma é o que Kotler chamou de “a miopia do marketing”, que é ver o produto ou serviço do ponto de vista da empresa, seus custos, processos e necessidades e não da demanda do mercado e seus consumidores, e outra e a auto-referência, nossa real incapacidade de sair dos nossos valores, preconceitos e expectativas, enxergando o mercado como uma entidade em si e não uma extensão da nossa mente.
    Ótimo artigo, parabéns Paula!

    • Paula Bortolini

      Oi Fábio! Que bom que gostou do post. Acho que precisamos mesmo estar atentos à linha, muitas vezes bem fina, que permeia os pontos que você citou. E isso exige olhar atento, estudo e percepção do mundo ao nosso redor.

  4. Alessandra Alkmim

    Bela reflexão Paula! Concordo com vc em gênero, número e grau. A realidade está aí. Precisamos saber como enxergá-la.

    • Paula Bortolini

      Legal Alessandra! Somos profissionais e, mais do que isso, cidadãos. Precisamos saber dosar o que oferecemos ao público e também o que assimilamos de tudo que nos é oferecido.

  5. Olá Paula!

    Muito bom post, parabéns.

    Como profissional da área: assisto aos programas e gosto muito das provas realizadas pelas marcas no BBB. Em compensação, as provas de A Fazenda de Verão deixam a desejar. Ontem assisti o Mulheres Ricas e não vi merchan e foram dois curtos comerciais, o que dá a entender que o programa dá um burburinho mas não dá dinheiro/audiência. Já o livro 50 tons de cinza é realmente um sucesso, mas não colocarei minha opinião como profissional aqui, por ser polêmica e digna de várias interpretações.

    Como telespectador, que chegou cansado depois do trabalho ou que está de bobeira em casa no final de semana: assisto mesmo, gosto de tudo e dou altas risadas. TV é isto aí, não adianta lutarmos e brigarmos por algo que não irá mudar, visto que as opções estão aí e quem quiser, que as procure.

    Sds,

    • Paula Bortolini

      Olá Heron! Concordo que as marcas se esforçam para oferecer boas provas, que divulguem bem e que chamem a atenção do público.
      Eu também já vi muito desses programas, li vários best seller e concordo que a TV está aí para entreter, que precisamos sim de um descanso. O que chamo a atenção é que o papel dessas mídias de massa é muito grande e influenciador. Temos que pensar que muitas vezes as pessoas não assistem com o senso crítico, ou apenas de bobeira para não pensar em nada. A massa forma opinião e tem comportamentos e atitudes a partir do que vê. Então é mesmo para refletirmos e sabermos dosar entretenimento, cultura, informação, etc.

  6. Luis Paulo Farias

    Paula, parabéns… Muito bom!

    Lembrei do livro do Sociólogo francês, Pierre Bourdieu, Sobre a Televisão. Num determinado momento, no tópico – Uma censura invisível – ele afirma: “[…] o tempo é algo extremamente raro na televisão. E se minutos tão preciosos são empregados para dizer coisas tão fúteis, é que essas coisas tão fúteis são de fato muito importantes na medida em que ocultam coisas preciosas. […] A televisão tem uma espécie de monopólio sobre a a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população. Ora, ao insistir nas variedades, preenchendo esse tempo raro com o vazio, com nada ou quase nada, afastam-se as informações pertinentes que deveria possuir o cidadão para exercer seus direitos democráticos”.
    Flaubert – Madame Bovary – escreveu: “É preciso pintar bem o medíocre”, e isso a televisão faz excelentemente, magistralmente. Claro e seus desdobramentos digitais tbm, em especial, Youtube e afins…
    Reconheço a importância da TV, mas deve ser assistida com parcimônia. Não vou discutir sobre o sucesso cego e acrítico dos programas, marcas, etc, não se lembram do Sr. Goebbels e o desfecho desta história? Treblinka, Birkenau-Auschwitz, Belzec, Chełmno, Jasenovac, Majdanek, Maly Trostenets, Sobibór. O marketing é uma das ferramentas humanas mais poderosas. Se utiliza de que há de mais profundo em nós, desejos. Temos que refletir muito em nossa atuação diária. A responsabilidade é grande! Muito grande!

    • Paula Bortolini

      Muito Bom Luis! É justamente sobre isso, o vazio que afasta os espectadores de uma formação crítica, de cidadãos atuantes. É claro que concordo plenamente que a TV tem uma importante parcela no entretenimento, em programas que divirtam. O que acho que devemos estar atentos – e receosos – é sobre os limites, sobre SÓ termos oferecidos aos públicos esse tipo de programação que é fácil de assimilar, que não faz o telespectador ter uma visão mais abrangente das coisas.
      E que os profissionais têm o dever de contribuir para que os desejos sejam atendidos, mas também criados baseados em questões que engrandeçam mais as nossas mentes.

  7. angela

    Excelente, Paulinha!

    • Paula Bortolini

      Legal Angela, que bom que gostou!

  8. Paula,

    Ótima abordagem, gostei muito do post, e tenho me questionado muito
    sobre o BBB, tenho visto muitos internautas reclamarem no twitter ou em outros meios, mas o programa está na 13° edição e grandes marcas investem no mesmo.
    De fato algum retorno deve ser evidenciado por parte das marcas.

    E também concordo com a Janaina, é uma lastima as pessoas acharem que entretenimento é cultura. Pois o Brasil tem muita cultura a ser explorada e apresentada.

    -1
  9. Paula Bortolini

    Olá Mateus. Com certeza os patrocinadores têm retorno, não é? Até porque são grandes marcas que investem já há algumas edições.
    O que não nos falta é cultura. Só precisamos explorar mais isso em ações de marketing, além de levarmos na nossa vida pessoal. E temos excelentes exemplos de mkt cultural espalhado pelo País.