Que tal montar seu negócio começando com aquilo que você já sabe fazer? Muitos empreendedores se deram bem criando produtos ou serviços dentro de segmentos que já tinham algum tipo de conhecimento ou experiência. Neste artigo o empreendedor Ricardo Vilela nos conta como ele gerencia a Bela Vista Florestal, um empreendimento de sucesso que é referência nacional em cedro australiano, localizada em Campo Belo, Minas Gerais.
Antes de se tornar um empresário bem sucedido, Ricardo Vilela já conhecia muito bem a área onde estava pisando. “Trabalhei por quase dez anos em um negócio familiar, que era a pecuária leiteira. Com a queda do preço do leite pago ao produtor e sem perspectiva de melhora, comecei freneticamente a procurar novas opções que pudessem sustentar não um, mas três núcleos familiares, pois, brevemente, eu e minha irmã íamos constituir famílias”, explica.
Diante disso, Ricardo chegou a pensar em aproveitar alguma estrutura e espaço físico já existente na propriedade. O empresário sabia que precisava fugir do agronegócio tradicional e continuar lidando com a terra, que era um insumo que a família possuía. O sonho de empreender continuava enquanto buscava novas alternativas de investimento. “Tinha que ter perspectiva de crescimento, pois quando não se tem muita tecnologia, o jeito é trabalhar com commodities. Às margens desse tipo de produto são ditadas pelo mercado e são cíclicas. Quando caem, só tendo escala para sobreviver”, afirma.
Apesar da ansiedade típica de quem pensa em empreender algo novo, Ricardo não desistia de encontrar uma oportunidade que fosse inovadora e rentável, mesmo que em longo prazo. Segundo ele, nesse período houve muita tensão e uma busca meio desorientada por novas possibilidades. Ricardo pesquisou o modelo “fazenda lixão” com reciclagem, a produção de ervas medicinais, franquia dos correios, produção de feno, orquídeas, palmito, cogumelo (coisas mirabolantes não paravam de surgir). A busca por um negócio próprio foi motivada por necessidade, ele lembra que adorava trabalhar com o gado e não mudaria de ramo se não fosse preciso.
Empreender é enxergar uma oportunidade ou uma boa ideia e aceitar o desafio de colocá-la em prática, sem o medo do risco. A coragem tem que ser seu maior aliado. Para Ricardo Vilela, empreender é “uma coceira que aparece e, quando tudo finalmente entra no lugar e a vida começa a ficar mais tranquila, faz começar um projeto novo, movido mais pelo desafio de ver dar certo que pela perspectiva de lucro em si”.
As atitudes que definem se o empreendedor é criativo giram em torno das suas habilidades inovadoras ao abrir um negócio. Ricardo explica o caminho que ele percorreu com a montagem de um viveiro florestal. Na época que ele decidiu montar o negócio o objetivo era ser produtor de madeira, mas eles não tinham capital para investir na floresta e esperar seis anos pelo retorno. A produção de mudas foi uma forma de contornar o problema. Com isso, houve a capitalização e eles puderam retomar o curso original de floresteiros. Nessa fase a grana era curta e o espírito empreendedor e a criatividade foram fundamentais para construírem um viveiro que funcionasse, sem gastar a fortuna que as empresas florestais gastam.
Decisões mais equilibradas evitam que empreendedores caíam em armadilhas e abrem espaço para uma visão estratégia e inovadora do seu negócio. Ricardo soube dar o passo certo no momento certo. “Nossa grande sacada foi ter consciência de nossas limitações. Mais ou menos assim: uma vez que eu não sou um gênio, tenho certeza que outras pessoas estão percebendo que produzir mudas é um bom negócio, e consequentemente começando a fazer o mesmo. A lucratividade provavelmente vai piorar em alguns anos. Com isso, conseguimos nos preparar para quando a competição no setor se acirrasse ou a demanda e a lucratividade caíssem, ou ambos como realmente aconteceu com o negócio de produção de mudas de eucalipto. Essa preparação foi feita por meio de plantios florestais próprios (passamos a ser produtores de madeira de eucalipto) e do investimento no cedro australiano, uma espécie com grande potencial e pouco estudo e qualidade na época. Investimos na única pesquisa de melhoramento genético e clonagem da espécie que existe no Mundo. Hoje, somos referência nacional, não dependemos das mudas de eucalipto no viveiro, que não produz mais commodity, mas um produto de grife, o Cedro Bela Vista”, esclarece.
Em 2009, o empresário recebeu a ajuda do SEBRAE para a pesquisa do cedro australiano. Ele diz que neste ano, foram conduzidas simultaneamente nove linhas de estudo e a verba não dava para custear tudo. Uma dessas linhas teve o patrocínio do SEBRAE e os resultados da pesquisa beneficiaram produtores rurais do estado.
Segundo Ricardo, a inspiração para o negócio do cedro australiano vem da ideia de trabalhar por associação. “Vislumbramos a possibilidade de ser nessa espécie uma referência nacional, assim como éramos na criação de gado pardo-suíço. E contar com todos os benefícios disso”, diz ele.
Para Ricardo o empresário que não tiver criatividade está morto. Segundo ele, a criatividade está o tempo todo à prova, buscando formas de reduzir custos, melhorar processos, agregar valor e buscar novos nichos de mercado. “Um exemplo disso é que desde 2013 lançamos as mudas clonais de cedro no mercado, montamos uma serraria para trabalhar exclusivamente com cedro australiano, lançamos uma linha de produtos para casa feitos dessa madeira e agora estamos lançando uma marca de carvão empacotado para colocar nossa madeira de eucalipto. Uma forma de fugir do setor siderúrgico, que não se recuperou depois da crise de 2008, colocando em risco a eucaliptocultura em Minas, muito dependente do mercado de carvão vegetal/siderurgia”, complementa.
Empreendedores que usam a inovação a seu favor, reconhecem que parcerias estratégicas são bem-vindas, desde que sejam para incrementar seu negócio. De acordo com Ricardo, existem vários tipos de inovação que envolve diferentes custos. Hoje o grande produto da empresa dele, o cedro australiano melhorado, não existiria se não fossem as parcerias que foram feitas com o Instituto Estadual de Florestas; a Universidade Federal de Viçosa; SEBRAE e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Eles conseguiram resultados sensacionais que custaram cerca de três milhões de reais. O empresário acredita que se uma empresa como a Fibria ou a Klabin fizesse a mesma coisa gastaria no mínimo R$ 20 milhões, pesquisando por conta própria. Para o pequeno empreendedor, ele considera não ter outra forma de trabalhar. Bancar tudo é inviável. Ele esclarece que o jeito é dividir o “bolo”, por meio da parceria e talvez até oferecer participação no resultado.