Reunir comunicadores e criar um espaço para compartilhamento de informações e geração de conhecimento, esse foi o objetivo do evento Comunicar – Conectando Comunicadores, promovido pela ZOOM Comunicação entre os dias 26 e 28/08 no auditório da Una – Campus Aimorés, em Belo Horizonte.
A programação foi intensa (três dias de evento, 13 palestras e 5 workshops) e recheada de informações, ideias, conceitos, teorias, técnicas e insights, tudo para deixar comunicadores com a cabeça fervilhando! E também para gerar boas reflexões e mudanças.
O comunicar também se diferenciou um pouco dos eventos mais atuais da área por ser menos focado em novas tecnologias, mídias sociais e marketing digital. Sim, essas questões foram levantadas, porém não foram o foco principal. Os temas apresentaram conexões entre si, como nos casos da palestra de João J. Forni sobre Gestão de Crises e a de Reputação de Ana Luisa Almeida, assuntos intimamente ligados.
Abaixo, segue uma seleção de ideias transmitidas por cada palestrante
Gestão de Crises – João José Forni
Quando falamos de crise do que estamos falando, afinal? Problemas diários não são crise. Crise é uma ameaça ao negócio, ao core business da empresa. Não ocorre apenas com organizações, mas também com pessoas, principalmente, com perfil público como cantores, atores, etc. Elas surgem principalmente da falta de conhecimento sobre quais são as ameaças. Cada crise apresenta uma dinâmica própria e administrá-las é administrar decisões.
Não existe vida sem crise, seja pessoal ou organizacional. Lide com elas sem medo. Em uma crise, responda apresentando os fatos, não terceirize a responsabilidade, seja humilde e não arrogante, aja rapidamente.
A tecnologia revoluciona a comunicação – Convergência e produção multimídia – Thiago Costa
A tecnologia mudou a forma como percebemos o mundo. Obviamente, diante das inúmeras mídias que temos hoje, é importante criar uma convergência entre elas. Pois bem, o que o Thiago fez foi traçar um paralelo sobre o que estamos vivenciando atualmente e o papel das redes social nessa nova organização social. Alguns dados importantes foram apresentados, como o número de pessoas conectadas atualmente, que ultrapassa 103 milhões de pessoas no Brasil e segue crescendo…
Identifique a plataforma preferida do seu público, porém não invista apenas em redes sociais, pois você não tem “a chave”. Encontrar “a voz” da sua marca é fundamental, se sua cultura organizacional apresenta a empresa de uma forma, não seja diferente só nas mídias sociais. A relação com a marca deve ser a mesma off-line. Tenha canais exclusivos de comunicação, site, blogs, newsletters. Esteja presente. “Hoje, se você der um Google e não encontrar, não existe.”
Reputação – Ana Luisa Almeida
Ana Luisa é uma das profissionais mais experientes nessa área no Brasil. Ela é presidente do Reputation Institute Brasil. Só essa informação já cria altas expectativas! E, no caso, foram plenamente atendidas.
Nesta palestra, foram apresentados os casos da Petrobrás, Samarco, Beyond Petroleum – BP e Wolkswagen. Estas empresas passaram por crises recentemente e foram utilizadas como exemplos. De acordo com Ana, reputação é a percepção coletiva que fazemos sobre a capacidade da empresa em gerar valor para os diversos públicos. Constrói-se a partir de uma identidade clara, projeção de valores e reconhecimento ao longo da história e vida organizacional. Cerca de 84% do valor organizacional vem de ativos intangíveis, como sua marca/imagem.
O que a empresa é, é mais importante que seus produtos e serviços. “Reputação é como uma poupança que vamos acumulando ao longo da vida.” Porém, basta um deslize para que seja perdida. Comunicação é um processo circular, cíclico, sem fim, cheio de significação, apropriação e ressignificação. Atualmente, as organizações perderam o status de protagonistas na comunicação. Diversos atores sociais se apropriam da mensagem e a reescrevem por meio de mídias sociais. As marcas precisam estar atentas para não quebrarem suas promessas de marcas com seus stakeholders.
Storytelling como recurso estratégico comunicacional – Anita Cardoso
Na sua apresentação, Anita procurou contextualizar a evolução das narrativas ou “contação de histórias” através dos tempos. Storytellyng deve ser um recurso estratégico comunicacional, não apenas uma ferramenta. Casos de insucesso como das empresas Diletto e Sucos do Bem foram citados pela invenção de suas narrativas. Em contraposição, casos de muito de sucesso deixaram o público extremamente comovido com histórias cheias de emoção e bem produzidas. Um desses casos é o vídeo do Banco Itaú: Cada momento conta.
Storytelling precisa ser estratégico, envolver emoção, produção de sentido e subjetividade. As histórias precisam ser verdadeiras, ainda que não sejam as suas próprias. A marca pode, por exemplo, apresentar histórias de pessoas que apresentam valores e identidade que reforcem a marca. “Todo mundo se narra o tempo todo. Criamos narrativas de momentos importantes de nossas vidas.
Relacionamentos comunitários e responsabilidade social – Cláudia Sérvulo
Qual o papel da comunidade na viabilidade ou não de um negócio? As empresas estão de fato praticando a responsabilidade social que pregam? Ao questionar quantos profissionais no auditório tinham experiência com o tema, pudemos identificar que isso está bem aquém do esperado. Embora de extrema importância para organizações, poucas empresas de fato realizam responsabilidade social e em muitos casos apresentam apenas alguns projetos sociais e nada além.
Os profissionais da área precisam entender a real importância da comunicação com as comunidades para a empresa, para de fato, implantarem projetos que tenha relevância. Responsabilidade social não é sinônimo de projeto social. Projetos precisam ter começo, meio e fim para que conquistem a confiança de seus stakeholders. Comunidades tendem a ser receptivas a projetos socioambientais e ações de voluntariado promovidas por organizações com que não estejam em conflito. Por fim, faça a gestão dos relacionamentos e não dos recursos.
Painel: Mercado de Trabalho e Relacionamentos – Jornalistas X Assessores de Imprensa – Lucia Faria e Gisele Lorenzetti e os jornalistas Ivana Moreira e Luiz Fernando Rocha
Este painel ofereceu um debate entre profissionais de agências de comunicação e jornalistas. Diversos temas que geram polêmica foram abordados sobre a relação entre assessor de imprensa e jornalistas. Por exemplo: Jornalista em assessoria é profissional de comunicação corporativa não jornalista. Formação é importante, mas não essencial no jornalismo.
Lúcia Faria e Giselle Lorenzetti apresentaram dados das agências de comunicações, informações importantes a respeito do setor e como a comunicação deve ser adequada para o cenário atual. Ivana Moreira e Luiz Fernando Rocha analisaram como construir boas parcerias e o que deve ser evitado pelo assessor de imprensa.
Estamos em um momento de ruptura, fim de fronteiras, onde o consumidor constrói seus próprios canais. Receptor não é mais objeto: é sujeito.
Existem atualmente mais de 500 redes no mundo para distribuir conteúdo. Ainda assim, vale investir na área de comunicação. Apenas em 2015 o setor gerou 2,37 bilhões. Este valor supera a indústria de brinquedos, games, sorvetes ou celulose.
Para os assessores de imprensa ficam algumas dicas importantes:
- É preciso questionar e não confiar cegamente nas fontes;
- Jornalista sem fonte não existe, mas não publique sem uma análise;
- Não aceite metas absolutamente impossíveis, pois isso destrói sua relação com a marca.
- Jogue limpo para construção de confiança;
- Construa uma boa relação, passe boas pautas;
- Conheça a cadeia das redações para apresentar suas pautas. Nessa área, objetividade é tudo! E o tempo é muito importante.
Compliance como novo mercado da Comunicação – Gisele Lorenzetti
Compliance é um conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, análise de risco, código de conduta, canais de denúncia. São as políticas, normas, regras, procedimentos, manuais para estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. Pode ser considerada um pouco burocrática e ser mal compreendida. E, exatamente por conter essas características, ela pode ser um grande desafio para profissionais de comunicação que poderão torná-la mais humanizada, dinâmica, interativa, mais clara e acessível para seus diversos stakeholders.
Códigos de conduta não devem ser impostos, devem ser uma construção coletiva, cocriação, envolvimento adesão, orgulho. Treine funcionários, envolva-os, amplie canais de comunicação, crie engajamento natural. “Não existe implantação de compliance sem comunicação. Trata-se de uma área em expansão e que os comunicadores têm que se preparar para lidar com ela.”
Comunicação interna – Tendências e novidades – Cláudia Sérvulo
Esta palestra seria apresentada por Thatiana Cappellano, porém devido a problemas pessoais, ela foi substituída por Cláudia Sérvulo e teve seu horário alterado.
Cláudia apresentou alguns dados sobre o público interno, onde uma pesquisa revela que 20% dos empregados são contrários às estratégias da organização, 50% são desengajados e apenas 30% estão engajados. Nesse cenário, teríamos 70% do público interno agindo de modo desfavorável. De acordo com ela, para que a comunicação tenha resultados é necessário descobrir quem é quem. É necessário dar autonomia e liderança aos engajados para que a comunicação interna possa alcançar bons resultados.
O que engaja o público interno: Trata-se de uma pirâmide cujo topo representa Propósito e a base maestria e autonomia. É preciso gerar senso de aprendizado, clareza de participação, sentido. Como engajar: Realize o manejo da cultura organizacional, tenha grupos de cocriação. Se Informe, escute, insira no planejamento. Utilize plataformas colaborativas e disruptivas. Crie o futuro.
Comunicação no setor público: desafios e estratégias em tempos de crise – Armando Medeiros de Faria
A comunicação de órgãos públicos sofre ataques frequentes, principalmente, por estar constantemente exposta. Por isso, precisa ser dinâmica e agir rapidamente para evitar graves problemas à imagem da organização. Nesta palestra, foi possível observar a dimensão dos problemas causados, através de dois vídeos, sendo o primeiro deles repleto de informações variadas e confusas, usado para representar nosso excesso de informações. O segundo foi referente ao caso do nadador Ryan Lochte e sua tentativa de criar uma falsa história durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. Esse caso evidenciou como a comunicação de órgãos públicos pode ser afetada.
De fato estamos comunicando? Informação em excesso é comunicação? Fazemos pouca pesquisa, estamos ávidos em divulgar. O setor de comunicação perdeu o monopólio da produção de conteúdo. A comunicação no setor público é muito frágil e deve satisfação a muitos atores como mistério público, sociedade, entre outros.
Texto criativo – Rosane Queiroz
Como começar a escrever, como ter boas ideias, como evitar o bloqueio criativo? Esses foram os focos desta palestra. Para Rosane, escrever requer um pouco de sofrimento. “ Fácil, só se for texto psicografado”. Ela deu algumas dicas para escrever bem:
- Capriche na introdução. Use-a como uma isca, a primeira frase pesca o leitor;
- Use frases curtas, elas tornam a narrativa mais forte;
- Produza um conteúdo apurado: seja capaz de explicar a quem não entende, destrinche como se fosse ensiná-lo a uma criança;
- Cuidado com repetições;
- Use adjetivos com moderação;
- Mescle ideias antagônicas;
- Treine um olhar curioso, comece de algum lugar, depois as peças se encaixam.
Não existe escrever sem ler, é preciso ter intimidade com a leitura para escrever bem. Comece copiando o estilo de seus autores favoritos até desenvolver o seu próprio. Texto é quebra cabeças, sem envolvimento, o texto não desenrola.
Sem dúvida, o evento atendeu às expectativas e trouxe resultados muito positivos para a área Comunicação. Espero que o 1º Comunicar abra caminho para se tornar um evento permanente na agenda dos profissionais de Comunicação. Já aguardamos o próximo!