Quando o Orkut chegou ao Brasil ainda não havia a percepção de redes sociais, e suas estratégia de lançamento foi perfeita, para fazer parte daquele grupo seleto de pessoas com acesso ao tal site, era preciso ser convidado por alguém que já era pertencente à comunidade. A necessidade de pertença sempre foi algo importante para as pessoas e a estratégia do Orkut se apegava justamente a essa característica, que deu muito certo, uma febre de busca por convites se deu na rede que até então usava o email como principal meio de comunicação com os amigos ou profissionalmente. Em sites como mercado livre os convites eram vendidos a preços exorbitantes, assim o Orkut, utilizando a teoria do “Six Degrees of Separation” que diz que todos os habitantes do mundo podem ser ligados por meio de 7 pessoas, 6 graus de separação, deu tão certo que em poucos anos o site se tornaria uma das maiores redes do mundo, e a maior rede do Brasil, chegando a ter 43 milhões de brasileiros.
A rede mudou a forma como os usuários utilizavam a internet, antes do Orkut a navegação se dava por visitas em sites temáticos, e as revistas e sites especializados em indicação de sites interessantes dominavam o mercado e a rede, com a chegada e popularização dessa rede o destino ao entrar na Internet era certo, primeiro logar no Orkut, depois fazer qualquer outra coisa, estudar, trabalhar, etc. Na vida social dos brasileiros não foi diferente, nos bares, no trabalho, em qualquer lugar a pergunta mais frequente era: Qual seu Orkut?
Arriscaria até a dizer, que a chegada do Orkut foi a pedra que faltava para o fim da Kodak e as máquinas fotográficas analógicas, pois outra mudança comportamental foi a extinção dos álbuns de fotos impressas para a publicação das fotos na rede social, o motivo era óbvio, o álbum de foto impressa atingia uma pessoa por vez, já a foto no Orkut tinha um impacto muito maior, limitado apenas ao número de amigos.
Outro grande diferencial do Orkut foi o conceito de comunidades, lugares onde os usuários se reunião para falar dos mais diversos assuntos, desde o prazer de acordar tarde até o limite de assuntos que a imaginação permitisse inventar, por meio das comunidades vistas no perfil de alguém, muitas empresas começaram a delinear a personalidade dos candidatos, em seus processos seletivos, as comunidades chegaram a tal micro cosmos que não era incomum comunidades para o nascimento de crianças ou homenagens (como esta abaixo, em homenagem ao meu Pai).
Com tamanho sucesso, e número de usuários, a percepção era de que o site seria eterno. Nas minhas aulas de marketing, quando falava sobre o ciclo de vida de produto e citava o fim do Orkut, meus alunos na época não acreditavam, afinal, grande parte de seu tempo e sua vida estavam justamente nessa rede social (a mesma reação acontece hoje quando uso como exemplo o Facebook), mas é certo apesar de sabermos que não era eterno, o fim do Orkut foi prematuro, e certeza previsível.
Sem uma política de controle e privacidade o site passou a ser invadido por vírus e spams em suas comunidades, e não houve durante muito tempo nenhuma reação ou preocupação da administração à este problema, outro fator importante foi a falta de inovação, o site ficou estático por muitos anos, e as mudanças eram sempre reativas e adaptadas as ferramentas de outras redes sociais que começaram a surgir. E algumas ferramentas inovadoras oferecidas pelo site passaram a ser motivo de grande conflito, como a possibilidade de monitorar quem visitava as páginas pessoais, que teve consequência, brigas e pedidos de explicação.
As marcas engatinhavam no uso das redes sociais, e sem saber muito bem como reagir a este novo comportamento da rede, se restringiram a monitorar as comunidades relativas à sua marca, sem grandes ferramentas de métrica de mídia social, e principalmente, sem noção de retorno financeiro de suas ações na rede. Além disso, o site não oferecia para as empresas informações sobre o público que se relacionava com a marca.
Dessa forma, com a chegada do Facebook, rapidamente os internautas migraram de rede social, e o fator de sobrevivência de qualquer rede social é justamente estar onde os amigos estão; em poucos anos o Orkut passou de mais de 43 milhões de usuários para 4 milhões esporádicos, e o fim se aproximou para essa rede que, com certeza, vai ficar nos corações dos brasileiros e na história da internet, mas vai agora fazer companhia a marcas como Kodak, Olivetti, MSN, entre outras que agora são expostas no “Museu de grandes novidades” como disse o cantor Cazuza.
Eliane Lages
Adorei seu post, Douglas! Me fez relembrar a época da faculdade e como o Orkut fazia sucesso entre a minha turma.
O bom disso tudo é que surgiram mídias sociais mais aprimoradas e que ajudam os usuários a trabalhar melhor as marcas na web né?
Abraços, Eliane.
Matheus Mousse
Saudades mesmo, bons eram aqueles tempos que a gente conseguia ver quem fuçava o nosso orkut rs. Para mim o orkut foi melhor que o facebook em muitos aspectos, as comunidades são um deles e vão fazer falta.