Uma mulher apaixonada pela criatividade. Essa sou eu. E todo mundo aqui no blog já sabe disso. E justamente por ser “uma mulher apaixonada pela criatividade” que hoje resolvi falar da mulher criativa, do universo feminino no seu processo de criação.
Fui convidada a participar de um encontro na casa de uma amiga chamado de “Círculo de Mulheres”. Recebi o convite com entusiasmo e vibrei ainda mais quando vi que o tema daquele encontro seria: “Criatividade da Mulher Selvagem” – inspirado no capítulo 10 do livro “Mulheres que correm com os Lobos”, cujo título é “As águas claras: o sustento da vida criativa”. Curioso¿ Para mim foi. E muito.
Naquela noite de lua cheia (inspiradora para nós mulheres criativas!), o círculo reuniu 30 mulheres ao redor da fogueira para compartilhar histórias, tocar alguns instrumentos e dividir a alegria da vida. E foi incrível.
Gostaria de postar aqui alguns trechos desse capítulo. Um texto fascinante do início ao fim e que foi inspirador para o encontro em volta da fogueira e também nas danças de pés descalços, mãos dadas e almas iluminadas pela lua cheia.
Martha Medeiros já dizia: “possuímos uma criatividade insuspeita, inventamos músicas, amores e problemas…”.
CAPÍTULO 10
As águas claras: O sustento da vida criativa
A criatividade é um mutante. Num momento, ela assume uma forma; no instante seguinte, uma outra. Ela é como um espírito deslumbrante que aparece para todas nós, sendo, porém, difícil de descrever já que não existe acordo a respeito do que as pessoas vislumbram no seu clarão cintilante. Será que o emprego de pigmentos e telas, ou de lascas de tinta e papel de parede, é comprovação da sua existência? (…)Tocar com amor as folhas de uma planta, reduzir a importância de certas preocupações, dar nós no tear, descobrir a própria voz, amar alguém profundamente? Também. Segurar o corpo morno do recém-nascido, criar um filho até a idade adulta, ajudar a reerguer uma nação derrotada? Também. Cuidar do casamento como do pomar que ele é, escavar à procura do ouro psíquico, descobrir a palavra perfeita, fazer uma cortina azul? Tudo isso pertence à vida criativa.
(…) Alguns dizem que a vida criativa está nas idéias; outros, que ela está na ação. Na maioria dos casos, ela parece estar num ser simples. Não se trata do virtuosismo, embora não haja nada de errado com ele. Trata-se de amor por algo, de sentir tanto amor por algo — seja por uma pessoa, uma palavra, uma imagem, uma idéia, pelo país ou pela humanidade — que tudo o que pode ser feito com o excesso é criar. Não é uma questão de querer; não é um ato isolado da vontade. Simplesmente é o que se precisa fazer.
(…) Se ansiamos pela energia criadora; se temos problemas para alcançar os aspectos férteis, imaginativos, formadores de idéias; se temos dificuldade para nos concentrarmos no nosso sonho pessoal, para agir de acordo com ele ou para garantir sua execução, então alguma coisa deu errado no ponto de união das águas das cabeceiras e dos afluentes de um rio. Ou pode ser que as águas criadoras estejam correndo por um meio poluente no qual as formas de vida da imaginação são eliminadas antes que possam atingir a maturidade. Com enorme freqüência, quando uma mulher se vê despojada da sua vida criativa, todas essas circunstâncias estão no cerne da questão.
(…) Quando a criatividade fica estagnada de uma forma ou de outra, o resultado é sempre o mesmo: uma fome desesperada pelo novo, um enfraquecimento da fecundidade, uma falta de espaço para as formas menores de vida se localizarem nos interstícios das formas maiores de vida, uma impossibilidade de que uma idéia fertilize uma outra, nenhuma ninhada, nenhuma vida nova. Nessas circunstâncias, sentimo-nos doentes e queremos seguir adiante. Vagueamos sem destino, fingindo poder sobreviver sem a exuberância da vida criativa, mas não podemos nem devemos. Para trazer de volta a vida criativa, as águas têm de ficar claras e límpidas de novo. Precisamos entrar na lama, purificá-la dos elementos contaminadores, reabrir passagens, proteger a corrente de danos futuros.
(…) Os olhos das mulheres cintilam quando elas criam; suas palavras saem melodiosas; seu rosto fica ruborizado; seu próprio cabelo parece brilhar mais. Elas ficam excitadas com a idéia, interessadas pelas possibilidades, apaixonadas pelo próprio pensamento, e a essa altura, como o grande rio, espera-se que elas se derramem continuamente no seu próprio caminho criativo. É desse jeito que as mulheres se sentem realizadas.
(…) No entanto, quando a vida criativa morre porque não estivemos cuidando da saúde do rio, a situação é inteiramente outra. Sentimo-nos exatamente como o rio que morre. Sentimos a perda de energia; sentimo-nos cansadas.
(…) Como pode a vida criativa da mulher ser poluída? Esse enlameamento da vida criativa invade todas as cinco fases da criação: a inspiração, a concentração, a organização, a implementação e a manutenção. As mulheres que perderam uma ou mais dessas fases relatam que não “conseguem pensar” em nada de novo, de útil ou que desperte sua empatia. Elas se vêem facilmente ”perturbadas” por casos de amor, pelo excesso de trabalho, pelo excesso de lazer, pela fadiga ou pelo receio de fracassar.
(…) A mulher precisa ter o cuidado de não permitir que o excesso de responsabilidade (ou de respeitabilidade) roubem o tempo necessário para seus êxtases, improvisos e repousos criativos. Ela deve simplesmente fincar o pé e dizer não à metade do que ela acredita ser seu “dever”. A arte não foi feita para ser criada somente em momentos roubados.
(…) Proteja sua vida criativa. Se você quiser evitar a hambre del alma, a alma faminta, chame o problema pelo seu verdadeiro nome e trate de consertá-lo. Pratique sua atividade todos os dias.
(…) Forje seu verdadeiro trabalho. Construa aquele abrigo de carinho e conhecimento. Transfira sua energia de um lado para o outro. Insista em atingir um equilíbrio entre a responsabilidade prosaica e o êxtase pessoal. Proteja a alma. Insista numa vida criativa de qualidade. Não permita que seus próprios complexos, sua cultura, os dejetos intelectuais ou que qualquer papo-furado político, pedagógico, aristocrático ou pretensioso lhe roubem essa vida.
(…) Ofereça alimentos para a vida criativa. Embora muitas coisas sejam boas e nutritivas para a alma, a maioria recai num dos quatro grupos básicos de alimentos da Mulher Selvagem: o tempo, a sensação de integração, a paixão e a soberania. Faça estoque deles. Eles mantêm o rio limpo.
Dedico o post de hoje a todas as mulheres sensíveis, de iniciativa, desafiadoras, guerreiras, ousadas, livres, mães, filhas, amigas, amantes e batalhadoras que, como eu, são capazes de transformar qualquer problema do dia a dia em uma grande oportunidade de aprendizado.
O mais incrível nisso tudo é a nossa capacidade de prosseguir. Ser mulher é sinônimo de enfrentamento, afinal somos almas criativas cujos medos deixamos pra trás.
Mulheres selvagens e criativas, sigamos em frente e de mãos dadas. Ao som de Gracias a La Vida, vamos colocar nossas saias para rodar e levantar os braços pro céu para agradecer a nossa vida criativa.
Fonte: (Livro: Mulheres que Correm com os Lobos. Editora: Rocco. Autora: Clarissa Pinkola Estes).
Eliane Lages
Parabéns pelo post, Alessandra!
Acredito que esse encontro que você participou deve ter sido bem interessante e produtivo. Obrigada por compartilhar o capítulo do livro conosco, ele me deixou com um gostinho de “quero mais” e já entrou na minha lista de livros para ler neste ano.
Abraços, Eliane.
Kalu
Alessandra parabéns pelo artigo. esse feminino selvagem é nossa natureza criativa, que se expressa na arte, mas sobretudo no dia a dia. Obrigada por trazer sua criatividade e abrilhantar o círculo.
Douglas Vidal
Parabéns Alessandra, excelente artigo!!