Todos nós, profissionais de marketing, sabemos da importância de se construir um planejamento estratégico, que deve ser muito completo, descrevendo todos os cenários que envolvem o mercado onde lançaremos nossa empresa, produto ou serviço. Certo?
Esse plano deve contemplar aproximadamente uns cinco anos de visão da empresa. Deve ser seguido pela elaboração de um plano tático que planeja aproximadamente um ano e este, por sua vez, deve gerar um plano de ações que normalmente já contém a previsão orçamentária anual. Essa é nossa teoria e, se tudo der certo, traçaremos um cenário perfeito para nossa inserção, posicionamento e escalada nesses cinco anos.
O problema, é que um ano é muito tempo! Na era em que vivemos, muitas coisas acontecem em questão de horas. Um evento lá na China pode gerar a necessidade de se readaptar toda uma estratégia local. Não podemos traçar mais planos de longo prazo. O mundo mudou e a forma como as coisas acontecem e se entrelaçam também. E certamente alguém pensará, mas nesse caso é só mudar o plano. Agora, sejamos francos: quantos aqui releem totalmente um planejamento estratégico, um tático e um operacional para compreender claramente que efeitos a mudança de uma única ação trará, sejam esses efeitos positivos ou negativos? Lembre-se de que tudo é encadeado e as coisas sofrem um *efeito borboleta”.
Pensando nisso, é bom sairmos um pouco da toca e bisbilhotarmos outras áreas, para ver o que há de novo que podemos adaptar a nossa cultura. E foi aí que chegamos na gestão de projetos, em especial, os da área de software. Até bem pouco tempo atrás, a maioria dos projetos eram executados através do método waterfall ou método cascata. Quem conhece um pouco de gestão de projetos sabe bem do que estamos falando. São as tais “boas práticas” que norteiam a execução de um projeto, fazendo exatamente como nós, profissionais de marketing. Nesse tipo de projeto, lá no termo de abertura, devem ser definidos todos os detalhes do escopo, para que o mesmo seja executado. O escopo deve determinar cada movimento do projeto, mesmo que de longo prazo. É o chamado escopo fechado. Antes de iniciar o desenvolvimento, é necessário pensar em todas as funcionalidades, cada linha de código que será inserida, cada tabela que será criada, cada tela que será exibida e em que situação. O objetivo é o de gerar um resultado final de qualidade, dentro do prazo estabelecido e respeitando o orçamento previsto.
O problema, é que assim como no caso dos projetos de marketing, é impossível chegar ao resultado almejado e em algum momento um dos três pilares vai acabar caindo. Para cumprir o prazo, sacrifica-se a qualidade ou estoura-se o orçamento. Para cumprir a qualidade, lá se vai o prazo ou o orçamento. E, normalmente, para cumprir preço, lá se vai a qualidade. Outra premissa de um projeto de escopo fechado é a de que é necessário construir uma documentação completa antes de iniciar o desenvolvimento. Esta servirá de base para o cliente se sentir seguro e norteará o desenvolvimento do software (lembra do nosso plano?).
Pois então, o pessoal da TI começou a ver que se boa parte do que era pedido, não correspondia ao que de fato era entregue, havia um problema no ar. Outro ponto que começou a incomodar foi o fato de se perceber que apenas 20% de todo o trabalho que era executado, entregava todo o valor que o cliente mais precisava. O resto, poderia até ser descartado do projeto que ninguém sentiria falta. Ou seja, 80% do orçamento era gasto com algo que não servia para nada ou que nem saía da gaveta.
Foi assim que se começou a pensar em outras formas de trabalhar até que surgiram as metodologias ágeis. A ideia principal é literalmente agilizar os projetos, pensando e executando em pequenos ciclos ou sprints, com duração de uma semana a um mês. O que deve conter em cada sprint é definido a partir de um backlog, construído pelo product owner e discutido pelo time do projeto, que acaba desenvolvendo uma visão mais holística em relação as diversas interações entre seu produto e o mundo. Esses times, seguem uns rituais muito bons para promover o trabalho em equipe, gerando aos poucos equipes de alta performance.
O cliente também tem um papel-chave. Ele interage o tempo todo com a equipe do projeto, acompanha cada etapa e ajuda na decisão na hora em que é necessário fazer uma mudança de rota. A ideia principal é compreender o problema que gerou a necessidade daquele projeto. Depois, entender como aquela solução será útil para aquele problema, como ela será utilizada e por quem, inicia-se o desenvolvimento do projeto que deve seguir o seguinte ciclo: planejar -> construir o mínimo necessário para se validar a ideia -> colocar na rua o mais rápido possível aquela parte -> medir a repercussão junto ao usuário -> aprender com essa análise -> recomeçar o ciclo. Com isso, as ações podem ser oxigenadas constantemente, entregando aquilo que de fato representa valor ao cliente.
Só aí, veja quantos ganhos o projeto já teve. As práticas promovem a integração do time que amadurece, o cliente recebe mais valor por menor investimento e os resultados dos projetos são mais transparentes e mensuráveis já no curto prazo.
Também não podemos deixar de citar o surgimento das startups e a popularização do método Lean Startup. Quando vemos essas empresas que surgem do nada a partir de um aplicativo e em alguns meses são conhecidas pelo mundo e faturam bilhões, chega dar até um nó no estômago de alguns dos profissionais mais preparados da área de marketing. Mas, isso não é mágica não, nem sorte. Apenas eles não se prendem tanto em processos e focam em gerar resultados o mais rápido possível. Novamente temos o ciclo planejar, construir um produto minimamente viável, testar, medir e aprender. Este ciclo está presente em tudo que é ágil! E uma das principais ferramentas utilizadas por esse método é o business model canvas.
Esse post tinha mais o objetivo de fazer uma conceituação para nivelar conhecimento. Não vamos entrar muito no mérito das práticas de cada metodologia, para não ficar cansativo. Mas se os comentários assim pedirem, em uma próxima vez podemos abordar algumas das principais práticas e como elas podem ser utilizadas no marketing.
Para concluir, deixo alguns links para quem desejar aprofundar um pouco mais seu conhecimento. Espero que sejam úteis.
Manifesto ágil: http://agilemanifesto.org/iso/ptbr/
Metodologia Scrum: http://pt.wikipedia.org/wiki/Scrum
Business Model generation: http://businessmodelgeneration.com/
Lean Startup: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lean_startup
*Efeito borboleta: http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta
Priscila Stuani
Parabéns pelo artigo Aline!
Hoje estou empreendendo na Happy Melly Brazil e o produto que vamos trabalhar é o Learning 3.0, justamente uma metodologia baseada no Canvas que visa ajudar as pessoas a resolverem problemas comuns.
Apoio todas as iniciativas que visam melhorar o nosso dia-a-dia, seja como gestão ou criação de novas ideias!
Abraços,
Pri
Marcelo L. Barros
Ótimo texto, Aline! Você deu uma explicação simples e efetiva das metodologias ágeis e conseguiu fazer o link com a sua área de uma forma tranquila e natural! A maioria das pessoas não acredita que metodologias ágeis funcionem fora de TI. Textos como esse nos ajuda a quebrar esse paradigma e esse pre conceito! Parabéns!